segunda-feira, 3 de janeiro de 2011


- These are dark times, there's no denying.

Blasfémia, indecoroso! - Vociferou o homem, da sacada de sua casa, gélido, volveu-se à um grupo de pessoas que ali transpunham-se, pouco depois de ver uma das cenas mais lastimáveis dos seus 55 anos. Um movimento covarde, sem sentido. A verdade era que os humanos que conheceu há meio século pouco se pareciam com os animais que ali estavam. O ano anterior havia terminado com perdas, e com luto o novo ano começaria. Cercado por anjos de mármore, pode presenciar a execução de mais um que eles julgavam crédulo. O fato é que com a ciência empenhando-se para contradizer as divindades, muitos indivíduos se perderam no caminho... aqueles que insistiam em acreditar em um "ser maior" seriam executados sem piedade. O mundo estava em colapso.

O garoto despertou com um som abafado. Pávido, se reconheceu 40 anos antes do ocorrido, logo concluiu que toda aquela cena angustiante não passasse de um sonho. Por impulso, colocou as duas mãos sobre o rosto, parecendo limpar alguma impureza, para depois abrir os olhos e se deparar com uma escuridão exorbitante, afinal, o relógio já excedia as 04:00. Levantou-se, mas continuou sentado à beira da cama. Sentiu como se estivesse embriagado por aqueles sonhos que algumas vezes pareciam delírios, alucinações, e em outras vezes pareciam visões. Quase automaticamente, se levantou, deu alguns passos à frente, e parado em frente a televisão de pé, ligou a aparelho. Se deparou com manchetes de um canal de notícia enfatizando assassinatos, roubos, sequestros, grupos criminosos, frieza, insensatez... Nada que não fizesse parte do seu, ou do cotidiano de qualquer outra pessoa que habitasse o mesmo planeta que ele. Por alguns instantes, desligou-se do que o jornalista falava, e quando voltou a si, ouviu outra noticia que nem de longe seria uma novidade. Um governante corrupto aproveitava o Carnaval na maravilhosa cidade de São Paulo, enquanto
a alguns metros do desfile carnavalesco, mulheres se vendiam para afiançar o pão de cada dia. Então, o âncora do telejornal convoca um especialista - em algum setor publico que aquela hora da madrugada pareceu irreconhecível - para anunciar o que se tornou óbvio : Uma sociedade inteira chorará, pelo que a minoria está fazendo. Desligou a televisão, e lançou-se em sua cama, fechou seus olhos, concluindo para si próprio. - Os seres irracionais que vi em meu sonho... Talvez não sejam tão diferentes dos que vi agora. Porventura, seria o caos o futuro do planeta...


Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world

John Lennon